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Nova ministra da educação do Equador e sua antecessora concordam: "Não podemos voltar à educação de antes"
Durante um encontro organizado pelo IIPE UNESCO, as autoridades contaram como foi feita a transição de governo e apostaram na continuidade de modalidades de aprendizagem flexíveis
DTR

A recém-empossada ministra da Educação do Equador Maria Brown e sua antecessora Monserrat Creamer participaram de um evento virtual nesta terça-feira, 15, para discutir pela primeira vez as políticas adotadas em seu país durante a pandemia, a transição de governo e o que elas esperam para a educação do Equador nos próximos quatro anos.

O encontro foi organizado pelo IIPE UNESCO, que, após analisar a forma como a troca de gestão foi feita, identificou-a como um exemplo para a região. Responsável por apoiar os países no cumprimento de seus objetivos educacionais, o Instituto defende que a recuperação da crise gerada pela COVID-19 depende em grande parte da continuidade das políticas implementadas, tanto no contexto pós-pandemia como em eventuais mudanças de governo.

"Muitas vezes, a transição entre dois governos, e mesmo entre duas administrações ministeriais do mesmo governo, leva a uma perda de conhecimento institucional e a uma descontinuidade completa na tomada de decisões educacionais", disse Pablo Cevallos Estarellas, Diretor do Escritório para a América Larina do IIPE UNESCO, na abertura do evento. "É compreensível e até mesmo desejável que, com a chegada de um novo governo, as políticas sejam revistas, mas na educação, o ideal seria que isso fosse feito 'construindo sobre o que foi construído'".

Na contramão da tendência histórica regional, este foi o caminho seguido em maio passado no Ministério da Educação do Equador. Através de um processo de transição organizado, a administração de María Brown pôde acessar, em suas palavras, "de forma completa e transparente" as informações necessárias para continuar com o plano de superação da crise educacional gerada pela COVID-19. "Economizamos uma quantidade significativa de tempo", disse a nova ministra.

Durante a transição, que foi apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o gabinete de Creamer carregou em uma plataforma todos os desafios relacionados às estratégias implementadas, além de informações sobre orçamento, núcleos críticos e resultados esperados. Para a ex-ministra, este modelo de transição governamental deveria ser emulado e sistematizado em outros países da região.

O plano de continuidade educacional do Equador, iniciado nos primeiros meses da pandemia, consiste essencialmente em três etapas. A primeira, Aprendemos Juntos en Casa, refere-se ao conjunto de iniciativas que possibilitaram a educação remota e é o estágio em que a maioria da população equatoriana ainda se encontra. A segunda, Juntos Aprendemos y nos Cuidamos, trata do retorno progressivo, seguro e voluntário às aulas presenciais. A terceira, para o período pós-pandemia, estará nas mãos da administração de Maria Brown e será chamado Todos Volvemos a la Escuela.

Durante o diálogo, as ministras concordaram que voltar à escola após a pandemia não significa voltar à escola de antes. Brown afirmou que durante este período, famílias e estudantes puderam reconhecer que diferentes modalidades de aprendizagem podem coexistir e que é benéfico que estas também sejam flexíveis e adaptáveis a cada contexto.

“Seria uma pena se, depois de tudo isso, voltássemos a ter um sistema educacional como o que tínhamos antes. Temos que sair desta com sistemas educacionais inovadores, reforçados, diferentes, que respondam melhor ao contexto e se adaptem à nova realidade”.

María Brown, Ministra da Educação do Equador

Outra lição aprendida é que o vínculo gerado entre as famílias e a escola deve ser mantido e aprofundado. "Estávamos nos movendo cada vez mais em direção a modelos educacionais onde os pais, especialmente em áreas densamente povoadas, deixavam seus filhos nas escolas e sabiam pouco sobre o que estava acontecendo dentro daquelas quatro paredes. A pandemia deixou isso à vista para as famílias, que agora têm uma melhor compreensão do que seus filhos aprendem e como aprendem", disse Brown.

Creamer concorda que chegou a hora de transformar a educação. "Por mais que tenhamos falado muitas vezes sobre reformas educacionais, chegou o momento de realmente gerar um ecossistema educacional onde a escola interaja com as famílias, com as áreas de nutrição, empreendedorismo, meio ambiente, com a comunidade e com problemas reais, e onde os estudantes aprendam fazendo, sentindo, criando suas próprias soluções", acrescentou a ex-ministra.

Para fechar o evento, as ministras defenderam continuar avançando no uso das tecnologias na educação e na inclusão digital, e mencionaram também a importância da alfabetização midiática-informatica, da cidadania digital e do desenvolvimento do pensamento crítico em redes.

O evento “Diálogo Técnico Regional: Continuidade das políticas educacionais no contexto de pandemia e pós-pandemia” foi realizado dentro da Rede de Especialistas en Política Educacional da América Latina do IIPE UNESCO. E contou com a participação de representantes de 11 países da região.

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