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Meninas e mulheres em educação e carreiras STEM na América Latina
Uma entrevista com Gloria Bonder, coordenadora da Cátedra Regional da UNESCO para Mulheres, Ciência e Tecnologia na América Latina
Meninas estudam ciência

© MaCTec Peru

Embora exista hoje um número maior de meninas matriculadas na escola, elas nem sempre têm oportunidades iguais para concluir e se beneficiar de uma educação de sua escolha. Preconceitos, normas sociais e expectativas influenciam a qualidade da educação que elas recebem e as disciplinas que estudam, principalmente quando se trata de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).

De acordo com o relatório mundial da UNESCO Descifrar o código: a educação de meninas e mulheres em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, apenas 35% dos estudantes de STEM no ensino superior são mulheres e apenas 3% das mulheres escolhem estudos de tecnologias da informação e comunicação (TIC).

A seguir, a coordenadora da Cátedra Regional da UNESCO para Mulheres, Ciência e Tecnologia na América Latina, Gloria Bonder, responde algumas perguntas para o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência.

 

Qual é o cenário atual da igualdade de gênero nos campos de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) na região da América Latina?

Na América Latina, 45% dos pesquisadores são mulheres, número que excede em muito a taxa global de 28%. A pesquisa em ciência, tecnologia e inovação expandiu-se e, mais recentemente, está em andamento a elaboração e implementação de políticas e regulamentos em universidades e centros de pesquisa com o objetivo de prevenir a discriminação e/ou violência com base no gênero.

Além disso, várias ONGs e redes de mulheres cientistas e tecnólogas da região estão aumentando a visibilidade das desigualdades de gênero em CT&I, recuperando contribuições de mulheres cientistas esquecidas. Essas iniciativas incentivaram instituições a desenvolver dados desagregados por gênero - informações essenciais para definir e promover mudanças nas políticas institucionais.

 

Como podemos engajar concretamente meninas em campos de estudos e carreiras relacionados à ciência em todo o mundo?

O currículo escolar precisam ser revisitado para desafiar o preconceito de gênero. Práticas co-educacionais inovadoras devem ser implementadas para estimular a curiosidade, a colaboração, o pensamento crítico e a experimentação.

Trabalhar com os professores é fundamental. É preciso integrar uma educação STEM sensível ao gênero tanto à formação inicial dos professores quanto a programas de formação continuada em todos os níveis. Os professores também devem se beneficiar de apoios como tutorias ou mentorias, para guiá-los através de um processo de reavaliação de seus conhecimentos, preconceitos, atitudes e competências para o ensino de CT&I.

Também é importante trabalhar na transformação de atitudes, crenças e cultura em torno do ambiente de CT&I, por meio da conscientização e de mais pesquisas.

 

Como a inovação pode promover um ambiente inclusivo no qual mais meninas e mulheres se envolvem em estudos de CT&I?

A inovação em si mesma pode não garantir um aumento na motivação ou no envolvimento de mais meninas e mulheres nos campos de CT&I. No entanto, a formulação, o conteúdo e a maneira como as inovações são usadas podem ter um papel poderoso na promoção da igualdade de gênero, levando mais meninas e mulheres a se envolverem em estudos e carreiras em CT&I.

Precisamos inovar em CT&I para garantir ambientes inclusivos, equitativos e diversos. Por exemplo, as novas gerações estão passando por mudanças sem precedentes em seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social, estimuladas por sua participação ativa nos ambientes digitais. Isso significa que as instituições educacionais devem integrar criativamente o uso das TIC nos processos de aprendizagem, garantindo a participação igual de todos os gêneros em todas as atividades e funções.

Também é importante identificar e desafiar estereótipos e preconceitos de gênero que frequentemente permeiam inovações tecnológicas, tanto em sua formulação quanto em suas funções e conteúdos.

 

O que você gostaria de dizer para todas as meninas ao redor do mundo?

As CT&I são, há muitos anos, domínios masculinos que excluíam ou subestimavam as contribuições e talentos das mulheres. Hoje, mais meninas estão descobrindo a beleza das ciências e da tecnologia e seu poder de melhorar o bem-estar de nossas sociedades.

É seu direito escolher o que você deseja estudar e como deseja desenvolver sua carreira e liderar sua vida. Mas isso também representa um desafio importante: não se adapte ao "jeito que as coisas são". Esteja atenta aos estereótipos de gênero e às práticas sociais discriminatórias explícitas e sutis. Crie redes com suas colegas e contribua para mudar o status quo.

 

Entrevista realizada por unesco.org, extraído e traduzido de: https://es.unesco.org/news/entrevista-ninas-y-mujeres-educacion-y-carreras-ctim-america-latina

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